domingo, 4 de dezembro de 2011

Texto Criativo

Saí numa manhã radiosa de Julho, após aquela noite fantástica, decidida a aproveitar o dia ao máximo. Primeiro ia á praia reter todo o Sol que conseguisse, até já estar farta de sentir a pele quente e a areia nos pés. Depois voltaria a casa, tomaria um bom banho demorado e passaria a hora seguinte sentada no chão de madeira em frente ao armário a escolher cuidadosamente o que vestir e mais uns quantos quartos de hora a tratar do cabelo e da maquilhagem… Eventualmente acabaria por sair de casa novamente, só para te voltar a ver. Ia dirigir-me ao bar onde te vi pela primeira vez, ia repetir o sorriso tímido inicial, ia encontrar-te junto ao balcão e ia ouvir-te perguntar novamente ‘’precisas de companhia?’’.

Nesse dia acordei decidida a ser feliz, saí de casa convencida que seria um bom dia; entrei em casa com uma forte sensação de mal-estar.

É que em vez de correr tudo como planeado, choveu e tive de voltar mais cedo da praia, o banho teve ser à pressa porque adormeci no sofá, escolhi mal a roupa e o resto dos preparativos foram desastrosos. E, saí novamente, e tu estavas lá. Mas não comigo nem para mim. Vi-te aproximar de uma rapariga loira e apesar de não perceber bem o que dizias, os teus lábios insinuavam ‘’precisas de companhia?’’. Vi-te cruzares um olhar com ela que sugeria ‘’esta noite pertences-me’’ e ao olhar para mim, nem me reconheceste. Entrei em casa, deitei-me, sem imaginar que dali a umas semanas o descanso já não seria o mesmo.

(…)

Deu positivo. Pousei o aparelho que mais parecia um termómetro, sentei-me no chão e envolvi as pernas com os meus abraços. Apesar do calor, senti um frio intenso.





quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Muda .

Ela gritou. Ninguém a ouviu, ninguém a viu, ninguém a acudiu. Mas ela gritou.

Começou com uma simples e eventual conversa. Depois mudou o rumo. O corpo dele era tão pesado e o dela tão leve… Ele pressionou-a contra a parede, molhada da chuva, como se ela tivesse dado permissão ou tivesse mostrado qualquer tipo de interesse. Tocou-lhe como se ela fosse dele. Beijou-a como se ela o amasse e aquele momento fosse apenas uma aventura amorosa de um casal jovem e feliz. Como se ela quisesse…

Usou-a e abusou dela, até ela não conseguir mais lutar. E ela lutava, tanto quanto podia ou o seu corpo lhe permitia. Aquele último toque, ardente e repugnante, foi-lhe um clarão. Nunca, enquanto vivesse, permitiria que ele corrompesse o seu santo sossego interior, o seu poço de vida encantado, meigo, fogoso.

E ela gritou mais alto, lutou com mais vigor, debateu-se contra aquele pilar gélido que não compreendia o significado de privacidade íntima.

Eventualmente ele fartou-se do alvo agitado. Mas antes, como se não tivera já feito o suficiente, como se já não tivera perturbado aquela mente jovem, proferiu algo que dava a entender que ia voltar. «Não acabo o que comecei porque tenho coisas para fazer».

Afastou-se, deixando-a imóvel, despercebida, sozinha.
Tanto que ela lutou, que ela gritou, para quê? Ele tirou-lhe a paz à mesma. O pouco de menina inocente e afável que ela ainda pudesse ter, partiu naquele momento, nas mãos de um estranho e inepto, um desconhecido que por casualidade do dia-a-dia, resolveu atrapalhar o sossego de uma amante.

A mãe, o pai, os amigos, de que serviam eles agora? A presença deles passava despercebida. Não havia companhia no mundo que a fizesse sentir-se auxiliada.

 
Vezes e vezes sem conta, explicou o mesmo. ‘Ele apareceu, encostou-se a mim, tocou-me, foi-se embora.’ Encontrá-lo? Identificá-lo? Era bom. Mas do que é que isso serve agora? Ele tirou-lhe o que de mais precioso ela tinha. Ela era segura de si. Agora é apenas mas uma que vive com os olhos postos no mundo à sua volta, não em si. Não valerá de nada apanhá-lo. Ela já não é quem era. Esperemos o melhor.

 
Pode ser que ela não se perca, que tudo lhe sirva de lição. Mas lição de quê? Para a vida? Que vida terá alguém, se para si todos lhe são ladrões ou profanadores de paz?

Tanto que ela gritou. Não passaram de gritos mudos. Ela chora, isso não há como negar. É a única vontade, o único escape dela. Foram só gritos mudos. Pobre menina, perdeu a voz.

‘’please… please… stop…’’.






domingo, 6 de novembro de 2011

Thousand Years

Há uma altura na vida de todos nós em que encontramos alguém, cuja definição não existe. Fica denominado, por muitos, de ‘amor da minha vida’, ‘razão da minha existência’, ‘a tal pessoa’, e afins. É aquela primeira pessoa que nos faz pensar duas vezes em tudo, que mexe connosco desde que nos lembramos, aquela pessoa com quem tem mil e uma histórias para contar desde o primeiro beijo, até ao último. Aquele ser humano de quem falamos sempre com um brilhozinho no olho. É sempre aquela luz.



Por muito mal que acabe, por muito que as pessoas mudem e o mundo se vire do avesso, essa pessoa é, e será sempre, aquela. É dos momentos, dos olhares, das passagens, dos dias, das noites, dos ‘amo-te’, dos ‘desaparece’, dos toques, dos apertos, dos abraços, dos ‘tenho saudades’, dos ‘gostava que dormisses comigo’, do calor, do sossego, do aconchego, da segurança, da sensação, do ‘aquece-me’, do ‘preciso de ti’, é de tudo, será sempre. É cada detalhe, cada fragmento, cada parte do algo com alguém.


É por tudo que essa pessoa é esse alguém. Como consequência, tudo o que é bom depressa acaba. Por traição, por discussão, por ciúme, por falta de sentimento, por razoes infindáveis. Verdade seja dita, nada é certo na nossa idade. Hoje é, amanha ou depois já não será. E muitas vezes até é sem motivo. Acaba porque sim.


E o que fica? Só o mau. O mau acaba por não se esquecer. O bom, eventualmente, abala. É que com o passar do tempo, acabamos por apenas nos lembrarmos que éramos perfeitos juntos e do porquê de ter acabado. A razão da perfeição fica incógnita, apenas fica a noção que existiu. Prevalece o ‘acabou, desculpa’. Muitas vezes nem o ‘desculpa’ fica, consome-se como resto.


‘Ele era o tal, juro-te que era. Juro-te que era com ele que me imaginava. Era com ele que me traçava um dia, casada. Era por ele que eu dava tudo o que tinha e não tinha, era a ele que eu entregava de mão beijada cada traço meu, era só a ele que eu via á frente, porra. E agora, isto? Agora desilude-me e magoa-me assim? Fiz alguma coisa para merecer isto? Dei-lhe tudo, o que tinha e não tinha. Fiz por ele tudo e que podia e o que não estava ao meu alcance. Ele era tudo. Fiz dele rei. Fiz dele o meu mundo. Em troca do quê? Do choro e dor? Não que tenha feito tudo para receber alguma coisa, mas o mínimo ele podia retribuir, nem que fosse apenas nos gestos. Nem que me desse apenas um terço do que eu lhe dava, apenas um terço… E agora é suposto eu levantar a cabeça e seguir em frente, que ironia, como se ele deixasse. Não é capaz de me fazer feliz, nem que seja ao virar as costas a tudo. Tem sempre de voltar e mexer na ferida. Como se já não basta-se estar sem ele, tenho de aturar as súbitas vontades dele que passam assim que falo em algo mais sério. Não sou nenhum brinquedo, mas ele usa-me com se fosse. E depois quer o quê? Não quer nada, o problema é esse. Não quer absolutamente nada, mas mesmo assim, continua aqui. Que nervos, adorava conseguir dizer-lhe que não, mas lá está: ele foi o tal, não consigo privar-me à presença dele, por mais que me sinta gozada e usada. Quero-o tanto, mas ele não. E estraga-me as vastas oportunidades de ser feliz. Usa, abusa, joga, brinca, como se eu fosse uma boneca insuflável. Agora? Agora é aguentar, amo-o mais do que a mim. Fiz dele alguém, agora já não lhe roubo o lugar.’


- But there’s a side to you that I never knew (never knew), all the things you say they were never true (never true) and the games you play, you would always win, always will…



Never try to do this at home ... You may get hurt . So stop and think ... Don't let go your happiness , because she may never come back. Fight for it . Be happy .


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Inveja .

- Estou? Estou? ESTOU?!

- Matilde?
-Quem fala …?
-É a Alice, será que podemos falar?
-Quem?
- Alice, amiga do Pedro. Conhecemo-nos no aniversário dele.
-Ah claro, que cabeça oca a minha. Diz querida.
-Queria falar contigo sobre o Pedro…


(…)


-Vocês o quê?
-Lamento imenso Matilde! Nem sabes o quanto me arrependo! Nós não o fizemos de propósito, apenas aconteceu. Amamo-nos... Perdoa-nos, por favor, nem me lembrei de ti…
-‘Nem me lembrei de ti’? NÃO TE LEMBRASTE DE MIM? Mas claro! Como é que tu te ias lembrar da namorada do gajo que comeste? Foda-se… Foda-se!
- Por favor, tenta compreender …
-Compreender o quê? A porca que és? Não arranjas gajo para ti e tens de te fazer aos das outras! O Pedro?! Estás com ele, não estás? Ele está ai?
-Não sei do Pedro. Por isso é que te liguei… Ninguém sabe dele desde ontem. Ele foi dar uma volta à praia e não voltou. Pensei que tivesse voltado para Lisboa, sabes, para te contar…
-Ele aqui não esteve.
- Sei que não queres ouvir isto de mim, mas estou preocupada, tenho medo que lhe tenha acontecido alguma coisa.
- Mas achas que me interessam as tuas preocupações, porra? Tenho duas coisas para te dizer. Primeiro: fica com ele à vontade, segundo: diz-me a esse grande filho da mãe que ele foi o meu maior erro e que nunca mais o quero ver à minha frente, ele que se mate! E tu mantém-te bem longe de mim!
- Matilde? Matilde?! Estou?! (desligou)


__________________________________


-Sim?
-Matilde? Desculpa ligar-te a esta hora, é o Rui, irmão do Pedro.
-Ah, não faz mal. Olá, tudo bem?
-Vou andando. Olha, estou a ligar-te por causa do Pedro.
(minuto de silencio)
- Sim? Diz Rui.
-Bem, nem sei como te dizer isto, mas o Pedro caiu.
-Caiu? Como assim, caiu?
-Caiu da falésia.
-HAN? Ele está bem?
- Está melhor que nós, acho… Caiu ao mar. Encontraram o corpo dele ontem… O velório é amanhã, achei que gostavas de ir.
-Meu Deus. Oh meu Deus … Ele sabe nadar e sabe bem das irregularidades das falésias…
-Se precisares de falar …
(Pi. Pi. Pi)




Caiu? Não. Fizeram-no cair.


Alice enlouqueceu. Não quis que Pedro voltasse para Matilde.
-‘És meu! Já foste dela muito tempo! Agora és meu, eu preciso de ti! Será que não percebes?! Fomos feitos um para o outro!’
-‘Alice, eu não te amo! A noite passada foi um erro. Nunca devia ter acontecido, eu amo a Matilde. Tenho de voltar a Lisboa. Não a vou perder.’
À luz destas palavras, Pedro caiu.


Alice enlouqueceu e errou. ‘Perdoe-me padre, pois pequei. Agi conforme as minhas necessidades e não pensei nas necessidades dos outros… Perdoe-me senhor padre, pois pequei’. O padre contactou as autoridades e Alice morreu no reformatório poucos dias depois, suicídio…
‘Amo-o e tenho de o ver, digam a quem quiser saber que estou onde devia estar. Ao lado dele. Errei ao mandá-lo para longe de mim. Não vou errar outra vez. Vou para ao pé do amor da minha vida. Não me podem prender mais’.
No ombro tinha marcado a inicial do nome dele. P.

Matilde não suportou o sentimento de culpa, achou que ele se tinha privado da vida pelo que ela disse … ‘diz-me a esse grande filho da mãe que ele foi o meu maior erro e que nunca mais o quero ver à minha frente, ele que se mate!’. Ela não suportou o sentimento de culpa e fez-se pelo mesmo caminho.
‘Mãe, Pai: amo-vos do fundo do coração que vocês conceberam com tanto carinho. Ensinaram-me tanto e sem vocês eu não teria coragem de tomar esta decisão. Tirei a vida ao Pedro com míseras palavras, não é justo que fique para contar a história. Mantenham-se fortes e unidos. Os pais do Pedro precisam muito de vocês e eles compreendem-vos melhor que ninguém. Compreendam, ele precisa de companhia e eu preciso de lhe dizer que ele foi o melhor que me aconteceu. Perdoem-me. Não falharam em nada, criaram-me bem. Obrigada por tudo. P.S.: amo-vos.’
Matilde caiu. Não a fizeram cair. Ela caiu. Ela amava-o. Ela caiu.


Três jovens. Pedro-17. Matilde-16. Alice-17.


Tudo por inveja.


(ainda em pequena)
-‘Matilde, que boneca tão bonita… emprestas-me? Quero muito brincar com ela’.
-‘Não a estragues! Amo-a muito.’

As identidades foram ocultadas e substituídas por nomes fictícios por motivos de força maior.

domingo, 19 de junho de 2011

Vida

Queres saber o que torna uma mulher algo tão indispensável? Queres saber o que faz daquele ser de onde todos os homens saem algo tão único e imprescindível? Queres?



É simples, não me vou por aqui com noções lógicas da ciência que todos nós aprendemos da escola nem com explicações sobre a magia de Adão e Eva, porque uma mulher não precisa disso para se afirmar.


Nós, mulheres, somos e seremos sempre o porto de abrigo dos que de nós saem, dos que de nós brotam. Seremos sempre o lar confortável a que todos recorrem em tempos difíceis. Seremos sempre o apoio procurado, mesmo pelos que de nós não afluíram.


Imaginemos um rio. Um grande e aprazível rio, com águas límpidas e serenas. Desse rio saem vários afluentes; nesse rio desaguam vários afluentes. Sem o rio, os afluentes não existiam. Não teriam de onde partir nem onde concluir a expedição. E sem rio nem afluentes, não haveria água corrente. A terra secaria. As plantas morreriam. Os animais não padeceriam. O Homem, por consequência, acabaria morto. Sem rio, a vida não seria possível. Encaremos então a mulher como um rio. Da mulher vem o Homem. Do Homem vem o trabalho no campo e o cuidado dos animais. Do Homem vem a ciência, a tecnologia, e medicina; do Homem chega a Vida.


Mas, sem o mar, sem fornecimento de águas maiores, não haveria o rio.


Sem o mar, um rio não passaria de um poeirento trilho de terra dura.


Do mar aflui a água, que viaja por caminhos altivos, escorrendo ao encontro do princípio da jornada. O mar vem do rio – o rio vem do mar.


Do Homem vem a Mulher – da Mulher vem o Homem.


A diferença encontra-se com facilidade. Enquanto o mar permanece imóvel à espera que o curso natural da vida ocorra, o rio trabalha para que a ordem se acomode ao curso da vida. O rio trabalha e batalha para concretizar este caminho, o mar limita-se a ser pagante dos outros elementos naturais.

O homem já tem o necessário para criar vida, mas é a Mulher que, de facto, a constrói. É a mulher que, com o pouco que o homem lhe dá, cria um pequeno mundo dentro de si, onde habitará outro pequeno homem no longo percurso de criação de vida. Ali, nesse pequeno mundo, outro homem ganhará a capacidade de, mais tarde, participar num novo decurso de geração de uma renovada e antagónica vida.


Sim, o Homem é mais forte, mais dominante, mais categórico. Mas não é por isso que ele é superior. O Homem é apenas um funcionário. É apenas quem ampara a mulher. Em troca, a Mulher devolve-lhe o que Deus lhe deu – vida.

sábado, 4 de junho de 2011

Necessidade

Falta-me algo. No meio de tudo o que me pertence, há algo que não tenho. Há algo que me faz falta, mas que não é presente na minha vida, que identifico não por não ter importância suficiente, mas como algo que quero. Mergulho em pensamentos e acontecimentos, em memórias e factos, mergulho com mágoa na saudade e na dor da distância, na dor incompreensível da ausência.

No escuro, onde apaguei e me privei de todas as memórias, procuro fragmentos do que outrora era preenchido, do que outrora fazia sentido e era necessário.

Recolho pedaços, junto-os na vã esperança de formar algo reconhecível, algo que me falte, algo que quero.

Vou atingindo, aprisionando, retendo tudo o que sinto passar pelos meus dedos, mesmo que no escuro não identifique a sua origem. Vou recolhendo tudo e juntando os bocados, unindo tudo de forma a criar algo idêntico ao anterior. E atingindo esse ponto, procuro sentido nesse algo que os fragmentos me apresentaram, exigindo um fim para a informação recolhida. E volto a mergulhar no escuro, procurando novos fragmentos que possa utilizar para assegurar o uso do que formei.

Dou por mim a vaguear nesse escuro, que antes era luminoso e vivo, que antes era origem de contentamento e que, por alguma razão, excluí do meu dia.

Rendo-me ao inevitável desagrado da ignorância, aceitando-o como um coerente erro impossível de apagar. Habituo-me ao desagradável e castigo a minha memória por não me recordar do porquê de ter posto tamanho contentamento fora do meu alcance.

Perco-me nos castigos mentais e nos esforços inúteis a fim de relembrar porque perdi o que me faz falta, se tanto preciso e quero que me pertença novamente.

Perco-me e vou caindo no escuro. Sinto a vida a passar-me pelos dedos e observo todas as memórias mantidas.

Analiso cada momento, cada acontecimento, cada pensamento. Coisas boas e coisas más sobressaem, com os seus prós e contras, está lá tudo.

Tudo o que aconteceu, tudo o que levei a acontecer. Está lá tudo presente, tudo o que queria e precisava, tenho tudo comigo.

E mesmo assim, tendo tudo no sítio, tendo tudo o que preciso para tornar o meu dia relevante, há algo que não está lá, que não está presente. Por mais que vagueie na memória, estará sempre escura. Basta não estar lá algo, algo que me faz falta, e será sempre um lugar vazio e escuro, proveniente de um erro que quero a todo o custo remendar.

Culpo-me por não ter sido flexível, por certamente não ter tolerado o suficiente, por ter sido egoísta ao ponto de excluir algo que precisava por razões, talvez, ridículas. Castigo-me por ter agido assim, por não saber aceitar algo que me aborreceu momentaneamente, por ter sido rígida e bruta e ter banido algo tão importante.

Após tanto suplício, surge uma pequena luz. Como um raio de esperança que abrilhantou o meu escuro. Há medida que o escuro desvanece, testemunho uma vaga de felicidade, de calor, de luz, de algo simpático que me perdoa, que me devolve o que me foi tirado.

Agradeço, chorando e rogando pragas a quem não agradecer juntamente. E recebo calorosamente o que tanto me fazia falta, o que tanto queria novamente no meu pensamento. Recebo, satisfeita e com lágrimas doces no rosto, o que outrora desperdicei. Recordo pensamentos e acontecimentos, memórias e factos, recordo tudo o que antes me foi concedido. Lembro-me então do porquê de ter abdicado do que me fazia feliz momentaneamente.

E deixo o escuro voltar, deixo o escuro apoderar-se do meu particular ser, deixo-me castigar e culpar. Pois o que antes me fez renunciar o que me fazia falta, forçava-me novamente a abdicar do que agora quero.

Tenho de largar e desistir. Sempre que me lembrar de ti, é uma obrigação a seguir. Tenho de abdicar de ti, porque me fazes falta.

Fazes-me falta porque me contentas. Tenho de abdicar porque não te faço falta, porque apesar de me quereres e sentires necessidade de me teres perto, a dor que te transmito por me contentares é maior.

Então, perdoa-me. Volto a ser egoísta e a excluir-te, pois o melhor para um alvo é que desistam de chegar a ele, só assim está em segurança.

Abdico do que me faz falta, porque o que quero e preciso não precisa das minhas vontades.

2º Lugar , com orgulho ♥

sábado, 7 de maio de 2011

Arte Exposta , Eventualmente

Não sei se aguento muito mais. Bem tento, mas não sei se consigo. É pesado demais para mim. É algo demasiado elaborado para uma cabeça tão inconstante como a minha. E, após tanto tempo, voltas.


Andamos nisto há meses. Vais, vens. Vou, venho. Tudo se modifica, tudo se distorce. Tudo … menos o sentimento. Menos o amor. Menos a saudade. Tudo muda, menos a presença. ‘E é amar-te assim perdidamente, é seres alma, sangue e vida em mim. E dizê-lo cantando a toda a gente.’. E eu magoo-te, enquanto tu me magoas a mim. E eu quero-te, silenciosamente, enquanto tu me queres a mim. E é amar-te, assim, perdidamente.


E agora, sou livre. Livre fisicamente. Ando livre por ai, ando presa no pensamento. Presa ando, presa andarei. Presa pela tua memória, presa pela minha arte.


Componho segundo a arte que crio, segundo a arte que quero criar. Amo-te segundo os sentimentos que sentimos, segundo aquilo que quero sentir. Amo-te assim, porque foi assim que aprendi a amar-te. E amo amar-te, amo querer sentir-te perto.


Amo-te. Amo-te mais que tudo e todos. Mais do que algum dia alguém será capaz de te amar. Amo-te hoje, amanhã, e depois e depois e depois, até ao final da minha vida. Amo-te hoje, pois é a única coisa que sei fazer com jeito. E essa é das poucas garantias que a minha arte te dará. Amo-te.


E recordo assim, mais um dia sem te ver. Mais um dia sem te ter. Mais um dia para te perder. Mais um de muitos na história do fim.

Espero - tenho esperanças - um dia assim será. Não hoje. Talvez amanha. Mas sim, um dia. Não foi como achámos que ia ser; simples, fácil, um paraíso. Não foi feliz, não foi o melhor. O que, eventualmente, seria de esperar. Houve dor. Houve rancor. Houve ‘fim’. E, para quem acredita em milagres, haverá o recomeço. Não sou desses, não acredito no eventual. Mas talvez, quem sabe, um dia.

Talvez, quem sabe, um dia, a minha arte seja exposta. Talvez a arte composta ganhe forma e cor, se forme, se junte, e componha alegria – talvez componha um quadro simples, fácil, um paraíso. Talvez componha algo feliz, algo melhor. O que, eventualmente, não é de esperar. É uma arte, composta. Compor é fácil. Expor? É uma eventualidade..

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Jogada Implacável

Tudo o que sobe tem de descer. Subiu, com todo o esplendor. Desceu, com todo o rancor. Eventualmente tinha de descer. Promessas e desejos, favores e quereres, tudo disposto a teu favor. Como num jogo de cartas, apostei milhões, para sair gloriosa. Joguei a manilha e a chave, com esperança de ganhar a jogada. Apostei cartas altas, com o maior valor possível; coitada de mim que, inocentemente, achei ter hipótese de ganhar. Adquiri altura e esperança, joguei para ganhar, convenci-me que era possível, deixei-me dominar. Jogaste cartas maiores, levaste e domaste os meus trunfos, extorquiste as minhas armas, fiquei sem o que jogar.



Dei por mim entregue à eventualidade, a viver em pleno vento, à espera de uma jogada limpa e simples. Esperei por misericórdia. Que a tua próxima jogada fosse fraca, implorei cartas baixas e jogaste com um baralho avassalador. Atacaste num ímpeto, sem pena e para arrasar.


Eu era alta, tinha firmeza e confiança no meu jogo; jogaste comigo e derrotaste-me, tirando-me alguns centímetros e parte da minha força.


Recompus-me aos poucos, preparei-me para jogar novamente. Não gostaste da minha excelência e desafiaste-me de novo, para por fim me derrotares por completo.


Ai meu amor, porque és tu tão competitivo? Porque jogas para ganhar, fazendo batota e sem te importares com o jogo limpo? Por tanto te amar joguei docemente, na esperança que acompanhasses o meu ritmo. Fui terna e meiga, agi para te agradar e, no fundo, para não te magoar. Tive o cuidado de te fazer sentir bem durante a disputa, de te fazer sentir confiante, fiz de tudo para te fazer feliz e, mesmo assim, não foi o suficiente para abrandares a investida.


Procuraste outro jogo, sem pores fim ao nosso, preferiste outras vitórias, apunhalaste-me pelas costas.


Não consigo ver-te noutro jogo, tão satisfeito e com agrado. Enoja-me o teu baralho, repulsa-me o teu reles jogo. Mas mesmo assim, joga comigo.


Joga comigo e pertence-me, empata comigo. Meu querido, sinto falta dos teus trunfos.


Jogas bem com batota, jogo limpo não é para ti, mas sinto saudade do jogador limpo, que outrora vi.


O teu jogo tornou-se ilegal, algo punível a nível sentimental. Jogas por um premio, contentas-te com o pior, preferes lágrimas e tristeza a sorrisos e felicidade. Atacas baixo, enojas-me. No entanto, amo-te.


Pertence-me; joga comigo. Sobe comigo, não quero descer. E assim - sim meu amor, subimos; sim meu amor, descemos.


Não te agradeço o jogo, tiraste-me a vontade de participar. Não te ofendo, não sou como tu. Não vou atacar, o jogo terminou; tinha de acabar, sim – terminou.

Subiu com esplendor, desceu com rancor.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Gosto de ti

Gosto de ti . Acho-te fantástico . Acho os teus lábios suaves e apetitosos , acho os teus olhos carinhosos e ternurentos , acho o teu corpo lindo e desejável , acho a tua personalidade algo único .


Acho-te algo , acho-te alguém ; gosto de ti meu Alguém .

A tua maneira de ser derrete-me , a tua maneira de estar conforta-me , os teus sentimentos aparentemente existentes fazem-me repensar em tudo o que acredito . Como é isto possível ?

''Não sei se é a voz , não sei se é o olhar , não sei se é o sorriso , não sei se é o andar , só sei que tu , só tu , só mesmo tu me fazes sonhar. Em tão pouco tempo , como pode ser ? Como é que fizeste isto acontecer , como foste capaz ? ''.

Mas que hei-de eu dizer ? Como hei-de eu explicar que isto que sinto é o que muita gente sente , que não é algo único mas que tu o és ? Acho que tudo se resume a um tímido 'gosto de ti' . Não te amo , consigo viver bem sem ti ; sim , consigo estar sem ti ... consigo , não quero . Se te virar as costas vou querer voltar para ti . Gosto de ti . Será o suficiente ? Espero que sim , porque não consigo sentir nada mais neste momento . Gosto de ti .

segunda-feira, 21 de março de 2011

Doce Pena

Pairando, viajo. Viajo através do tempo, através de histórias, através de mundos, através de tudo o que posso atravessar. Impulsionada pelo vento e por suspiros soltos algures, viajo por sítios há muito perdidos e chorados, viajo por terras trabalhadas e cansadas, tal como por ares respirados e forçados viajo.


Viajo por viajar, viajo por precisar, por querer, por desejar; viajo por viajar.


Viajo porque nada mais consigo fazer, senão entregar-me ao vento e deixar-me levar. Viajo porque me cansei de lutar por ficar, inutilmente. Sendo leve, não tenho força para me segurar, não tenho outro remédio senão deixar-me levar.


Habituei-me a viagens e há descoberta. Habituei-me a deixar-me seguir com o vento e a conhecer outras histórias previamente insignificantes. Voo e vou retendo. Retenho a mágoa, a alegria, a tristeza, a felicidade, o ódio, o amor; retenho tudo o que é deitado fora e largado ao vento, na vã esperança que não volte. Retenho o que não querem, o que não precisam.


E é retendo que viajo, leve e pura, de um branco imaculado. Vou retendo e perdendo peso, recolho o que não querem, limpo o ar de impurezas, deixo paz e tranquilizo os que ao céu atiraram os seus desesperos.


Recolho aqui, recolho ali, recolho onde há para recolher. E assim me vou mostrando, assim vou passando … Até deixar de passar, até a dócil ave perder outra pena e eu perder a leveza, substituída por uma mais prestigiada que eu. Vem Leve Pena, vem e substitui-me, que já recolhi demais. Vem Leve Pena, alivia-me a leveza.

domingo, 13 de março de 2011

Banalidades

Perdeste peso. Antes dizias mundos e fundos, agora são só mais umas dicas para a lista do banal. Por muito que te queira tornar menos leve, não consigo dar-te o peso que tinhas antes, não consigo fazer das tuas palavras vulgares aos ouvidos de tantas algo excepcional e sentido.


São banais, são vulgares; sinto falta delas. São triviais, mas existem. Por parte de alguém, existem.


“Não te vou dizer o banal ‘deixava-te a mulher mais feliz do mundo, porque isso é coro. Mas que te proporcionava momentos de prazer e bem-estar, que te fizessem sentir especial, e única, que te fizessem sentir que mais nada importa, que só existe eu e tu, eu só te dava razoes para acreditar, CONFIAR, amar, eu fazia de ti minha senhora, minha ‘mais que tudo’, eu levava-te ao infinito e regressava sempre de mãos dadas contigo … Até que acabasse como tivesse de acabar, eras minha para ‘sempre’... Amo-te.”
E, talvez, certas banalidades percam o valor, mas ditas de forma mais elaborada ganham outra importância. Talvez o banal não seja assim tão mau. O banal acaba por ser uma rotina, um hábito de que não dispensamos, que por mais que nos pareça plural, exigimos que esteja presente.


O banal não é mau, é vulgar, não é mau. Reagi de tal modo pois esperava que o banal fosse singular, inocentemente esqueci-me que o trivial nunca é dito só uma vez, a uma única pessoa, é o que torna o banal imprescindível.


Sim, perdeu o peso dito como sempre ouvi, tornou-se um novo hábito dito como agora vi.

Dou-te peso, não te quero leve. Amo-te. É banal, é rotina, é indispensável. É sentido, é quotidiano, é real. Amo-te.

terça-feira, 8 de março de 2011

- Afinal , capaz de odiar

Como um dia me julguei , acabaste por me julgar , docemente pedindo que não fosse capaz de odiar . Julguei-te grande , gigante , algo único e inédito , julguei-te algo amável , como já te tinha dito . Amei-te e pensei 'como posso eu odiar ?' , com tanto amor que tinha para dar . Dei tudo de mim , alimentei o esfomeado , dei o que podia , dei algo a tudo acabado .
Pedi a tua presença , apenas alguma atenção , falhaste-me em todos os aspectos , com a desculpa do perdão .
Não me peças o impossível , não o vou fazer , acabo por te odiar , mesmo sem querer .

Como uma Pedra

Como uma pedra , caida ao mar . Cai e com o peso desce . Desce e desce e desce . Afunda o máximo que pode e só pára quando atinge o fundo . E atinge o fundo porque tem de atingir . Pára porque tem de parar . Se nao houvesse fundo , se nao houvesse o que atingir , cairia nas desgraças do mar . Como tem um fundo para atingir , afunda . Afunda no escuro , turvo , frio , ingenuo mar , que , mesmo nao querendo , afunda tudo o que nao luta por ficar . Afunda o lutador cansado e o perdedor, afunda o bom e o mau , quem quer e quem nao quer . Afunda o que nao luta e , quanto está zangado , afunda o que luta .
Zanga-se quando lhe apetece , levando com ele o que nao faz questao de levar , afunda tambem o que anseia ficar .
E a pedra , coitada , sem ter como lutar , tristemente afunda e acaba por lá ficar . Sem ninguem que a tire de lá, habitua-se ao frio e à escuridao , que o aparente belo mar guarda , estranhando a luz e amando a solidão . Como uma pedra , no fundo , escuro e turvo mar , que bate no fundo e nao tem como voltar. Fica porque tem de ficar , fica porque nao ha quem a faça voltar .
Fica pedra , fica , que só podes ficar .

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Promete , que eu prometo .

Promete não me deixares e eu prometo não partir . Promete fazer-me sorrir e eu prometo não te fazer chorar . Promete que não dizes 'nunca' , que vais dizer 'sempre' eternamente , que as minhas lágrimas só caíram por felicidade , que a minha tristeza nunca se vai dever a ti , que me vais levantar sempre , promete que serás sempre um ombro amigo .
Promete que serás sempre a pessoa que és , capaz de me fazer feliz e acreditar no 'para sempre' , incapaz de me magoar , com um desejo enorme de fazer de mim a pessoa mais feliz do mundo , promete que vais ser sempre 'o tal' .
Promete que vais estar sempre a meu lado , para o que der e vier , sem que mentes inúteis se metam no meio de nós , sem que nada nem ninguém nos faça duvidar do que para nós é um mundo ideal .
Promete que cedes o que tiveres de ceder para estarmos bem , que lutas até não dar mais , sempre sem parar , até te cansares . E promete que quando nao der mais , continuas a lutar .
Promete tudo e eu prometo muito mais . Promete , que eu prometo .

Foi inveja .

Tanta mentira com que propósito ? Com que finalidade ? Não percebes que destruíste algo lindo com as tuas mentiras e inveja ? Destruíste um futuro feliz para duas pessoas que só queriam isso mesmo , pessoas essas que nem te queriam mal , que apenas queriam ser felizes juntas .
Acordaste um dia e viste que não tinhas nada e então destruíste o tudo que eu tinha . Foi inveja .
Admite . Deixaste-me na merda por inveja . Pessoalmente , considero-me uma pessoa justa , não me considero capaz de odiar alguém e acho que todos têm o que merecem . O que tu mereces , tu não tens .
Não tens o que mereces , não tens o que queres , não tens o que precisas , porque és como és .
Foi inveja . Destruiste tudo . E porque ? Por gostares do que eu tinha ? Não .. Não sabes gostar . Foi apenas por inveja . Mas não foi inveja de eu ter e tu não , foi inveja de eu ser e tu não . Porque tu , neste mundo , e em muitos outros , não és nada . És inveja , é só disso que és formada . Foi inveja .

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Ingenuidade

Vi um rapaz . Era pequena e nova , ingénua , não sabia o que era o amor e vi um rapaz . Ele viu-me e sorriu ; amável e simpático como parecia ser , sorriu . Eu vi-o e sorri ; ingénua e nova como era , sorri . No dia seguinte voltei a vê-lo . Ele viu-me , sorriu . Eu vi-o , sorri . Era nova e ingénua , os dias assim passaram ; considerei-me apaixonada . E então , escrevi :
- Gosto de ti . Tens um sorriso bonito . Tu olhas para mim e sorris . Gosto de ti .
Como nova e ingénua que era , beijei o texto , encostei-o ao peito e disse 'isto é o meu amor' .
Voltei a vê-lo . Desta vez ele não sorriu . Com pesar , cheguei-me a ele . Nervosa , dei-lhe aquele pedaço de papel rasurado e esperei . Esperei que ele sorrisse . Ele não sorriu .
Olhou para mim , meteu a mão no meu ombro e , com o olhar mais carinhoso de sempre , disse 'óh pequena , tenho idade para ser teu pai ' . Eu respondi 'Eu sei , gosto de ti . Como pai .' .
Ele , atrapalhado , perguntou 'o teu pai ?' e eu , com muita ingenuidade , típica da idade , respondi 'boa pergunta , senhor.'
O meu pai ?

Querida Mãe

Nasceste , viveste , tiveste-me e então tudo parou . Paraste tudo para me amares e acarinhares , para me criares e educares , para me alimentares , vestires , cuidares , paraste tudo para eu puder ter algo . Abandonaste a tua vida para eu puder ter uma . Oh Mãe , querida Mãe , deste-me um colo e uma vida , carinho , atenção , amor , deste-me tudo ... sem que eu te desse nada . Deste-me vida enquanto eu te tirei a tua . Hoje , dás-me tudo , sem que eu te dê algo . Apesar de erros existirem , nunca os cometeste .
Sofreste e mantens-te erguida , como uma deusa , como senhora do mundo . Querida Mãe , nunca me falhaste , acredito que nunca o faças . Estás aqui hoje , estarás aqui amanha , estarás cá sempre .
Não digo que compreenda o quanto te custou , não compreendo . Mas se a mm me custa tanta quebra de confiança , acredito que te custe muito mais . Compreendo a tua dor , aceito os teus lamentos e arrependimentos ; amo-te Mãe .
Lamento que sofras tanto , lamento tanta dor e agonia , lamento tanto arrependimento , lamento Mãe . Age como tiveres de agir , faz o que tiveres de fazer ; sofre , sorri , ergue-te , faz tudo o que tiveres de fazer ; fica bem . Já me deste vida , já me criaste , já fizeste de mim uma pessoa , agora deixa-me fazer de ti alguém .
Vai , faz por ti ; sê feliz , Querida Mãe .

domingo, 30 de janeiro de 2011

Falsa Eternidade

Tentemos arranjar uma definição de 'sempre' . Sempre , eterno , inacabável , infindável ; sempre . 'Eu sempre te amarei' , 'eu sempre precisarei de ti' , 'eu ficarei para sempre contigo' , ' nós vamos durar para sempre' ... Tantos 'sempre' , tantos 'nunca' , tantas promessas vãs , tantos 'nuncas' e 'sempres' . Sempre é inútil , nunca nada é para sempre e o 'nunca' não existe . 'Sempre' e 'nunca' são palavras criadas para ocupar espaço no dicionário , para criar ilusões e ao mesmo tempo destrui-las , para desculpar acções e caracterizar soluções , para fazer tudo valer a pena e perder a valor . Será o amor para sempre ? Será a alma eterna ? Será o universo infindável ? Será o ser humano capaz de se manter fiel á palavra 'nunca' ? 'Nunca trairas' , 'nunca pecarás' , 'nunca cobiçaras o homem de outra mulher' . 'nunca faltarás ao respeito físico ou moral dos que te tem respeito' , nunca ... sempre. 
Uma utilização da palavra sempre : 'sempre pecarás' .
Uma utilização da palavra nunca : 'nunca farás o que todos esperam de ti' .
Utilizações ? Sim , existem . Definições concretas ? Só no dicionário , criadas pelo Homem , imperfeito ; não aceitável na minha mente . São definições falsas , tal como as palavras , que falsas são .

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Acredito , penso , imagino .

Vai ficar tudo bem - gosto de acreditar nestas sábias palavras . Gosto de acreditar que os problemas e discussões vão desaparecer . Gosto de acreditar que tudo se resolve e que vai ficar tudo bem . Gosto de acreditar que os meus lábios se vão encontrar com os teus num terno beijo apaixonado , que o peito onde o meu coração bate inquieto vai encontrar-se com o teu numa leve tentativa desesperada de te manter comigo , que vais pousar ternamente as tuas mãos nas minhas ancas quentes , gosto de acreditar que vou ter a oportunidade de viver cada momento contigo . Gosto de acreditar que esse terno sorriso , inicialmente tímido , é só meu ; que a razão da sua modesta aparição sou eu . Gosto de pensar que esse brilho que o teu olhar carrega existe por eu o fintar tão alegremente . Gosto de ouvir o bater do teu coração e imaginar que ele me sente e só bate por ter noção da minha presença . Gosto de acreditar que o que nos separa é ílusivo , que desaparece mal  eu abra os olhos , que se vai embora e não volta mais . Gosto de acreditar , de pensar , de imaginar que tudo vai ficar bem . Acredito que vou sentir os teus lábios ; penso que o brilho do teu olhar se deve a mim ; imagino que o teu coração sente a minha presença e é por mim que ele bate . Acredito plenamente que o que penso e imagino é o que move as minhas crenças .
Acredito que se te abrir os braços , corres para mim e trazes contigo tudo o que queres viver comigo .
Acredito não , imagino ...

Ciclo vicioso

Um dia vou acordar e não vou precisar de ti ; um dia vou abrir os olhos e acordar numa realidade diferente onde tu não és ninguém ; um dia vou deixar de chorar por ti e vou rir-me de tanto que sofri nas tuas mãos ; um dia vou olhar para ti e não vou sentir vontade de te beijar ; um dia vou dizer-te que já não te quero e que não preciso mais de ti ; um dia vou retirar o 'amo-te' que te disse e vou dizer-te que te odeio ; um dia vou virar costas a tudo o que é teu e deixar-te desamparado ; um dia vou fazer-te sentir miserável como me fizeste a mim ; um dia vou arranjar alguém melhor que tu e que me mereça ; um dia vais rebaixar-te tanto quanto eu o fiz ; um dia vou conseguir dizer-te 'nao' e vou virar costas . Um dia vais deixar de ser quem és para mim ; um dia vou deixar de ser alguém para ti ; um dia vais virar-me costas e escolher outra pessoa ; vais pensar o que é que estas a fazer comigo e vais perceber que não é nada ; um dia vais olhar para 'nós' e pensar que foi uma perda de tempo ; um dia vais-te fartar do meu amor e vais querer ser amado por outra ; um dia vais olhar para tudo e vais virar costas ..
Um dia vamos ser desconhecidos ; um dia vamos esquecer cada momento que passámos e formar novos momentos com novas pessoas ; vamos odiar-nos por termos seguido em frente e arrepender-mo-nos de quem amámos e deixamos para trás . Um dia , esse penoso dia , o meu mundo vai ruir e vou por em causa tudo em que acredito e vou duvidar da pessoa que sou . Vou chorar por ti , vou ser egoísta e vou dizer-te que te quero aqui sem ligar ao que precisas , vou odiar tudo e todos , vou desesperar , vou pedir o teu toque e o teu beijo e não vou ter , e vou chorar .. Vou chorar e exigir a tua presença .
Vou voltar atrás no tempo e lutar por nós , vou ter-te e vou perder-te outra vez .. o ciclo vai repetir-se vezes e vezes sem conta ... Vou chorar , sorrir , chorar , sorrir novamente .. tudo de novo ..

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Infelizmente Volto

Voltei a ver em ti o que em tempos antigos vi , voltei a sentir o toque que me tempos evitava , voltei a desejar-te de uma maneira longínqua , voltei a sonhar com os teus lábios , voltei a imaginar-me nos teus braços , voltei a ficar perdida nesse teu sorriso maroto , voltei a querer estar perto de ti , voltei a gostar desse teu jeito atrevido e dos teus maus hábitos , voltei a não conseguir negar-te , voltei a deixar o meu corpo desejar o teu , voltei a permitir o teu gosto na minha boca , voltei a querer as tuas mãos em mim .
Voltei a sentir-me alguém , voltei a imaginar-me de mão dada contigo , voltei a ver o teu olhar em cada esquina , voltei a ver a tua cara na face de cada pessoa , voltei a ver a tua sombra colada à minha , voltei a ver-te . Voltei a odiar-me por querer alguém que não me ama , voltei a desejar não te querer , voltei a procurar razoes para não gostar de ti e voltei a falhar nessa tarefa .
Voltei a precisar da tua voz , dos teus lábios , dos teus abraços , das tua mãos entrelaçadas nas minhas , voltei a querer tudo o que é teu e a desprezar tudo o que tenho . Voltei a derreter-me com o teu jeito e maneira de estar , voltei a relembrar momentos passados , voltei finalmente a desejar alguém daquela maneira inesplicável . Voltei a ser alguém e agora quero , e vou , voltar para os teus braços , voltar a receber o teu carinho , voltar a ser totalmente tua . Voltei , Volto , Voltarei sempre , porque é esse o efeito que tens em mim ; fazes-me querer voltar . Fazes-me querer voltar e eu volto , como cadela , infelizmente . Volto hoje , Voltarei sempre .