sexta-feira, 8 de abril de 2011

Jogada Implacável

Tudo o que sobe tem de descer. Subiu, com todo o esplendor. Desceu, com todo o rancor. Eventualmente tinha de descer. Promessas e desejos, favores e quereres, tudo disposto a teu favor. Como num jogo de cartas, apostei milhões, para sair gloriosa. Joguei a manilha e a chave, com esperança de ganhar a jogada. Apostei cartas altas, com o maior valor possível; coitada de mim que, inocentemente, achei ter hipótese de ganhar. Adquiri altura e esperança, joguei para ganhar, convenci-me que era possível, deixei-me dominar. Jogaste cartas maiores, levaste e domaste os meus trunfos, extorquiste as minhas armas, fiquei sem o que jogar.



Dei por mim entregue à eventualidade, a viver em pleno vento, à espera de uma jogada limpa e simples. Esperei por misericórdia. Que a tua próxima jogada fosse fraca, implorei cartas baixas e jogaste com um baralho avassalador. Atacaste num ímpeto, sem pena e para arrasar.


Eu era alta, tinha firmeza e confiança no meu jogo; jogaste comigo e derrotaste-me, tirando-me alguns centímetros e parte da minha força.


Recompus-me aos poucos, preparei-me para jogar novamente. Não gostaste da minha excelência e desafiaste-me de novo, para por fim me derrotares por completo.


Ai meu amor, porque és tu tão competitivo? Porque jogas para ganhar, fazendo batota e sem te importares com o jogo limpo? Por tanto te amar joguei docemente, na esperança que acompanhasses o meu ritmo. Fui terna e meiga, agi para te agradar e, no fundo, para não te magoar. Tive o cuidado de te fazer sentir bem durante a disputa, de te fazer sentir confiante, fiz de tudo para te fazer feliz e, mesmo assim, não foi o suficiente para abrandares a investida.


Procuraste outro jogo, sem pores fim ao nosso, preferiste outras vitórias, apunhalaste-me pelas costas.


Não consigo ver-te noutro jogo, tão satisfeito e com agrado. Enoja-me o teu baralho, repulsa-me o teu reles jogo. Mas mesmo assim, joga comigo.


Joga comigo e pertence-me, empata comigo. Meu querido, sinto falta dos teus trunfos.


Jogas bem com batota, jogo limpo não é para ti, mas sinto saudade do jogador limpo, que outrora vi.


O teu jogo tornou-se ilegal, algo punível a nível sentimental. Jogas por um premio, contentas-te com o pior, preferes lágrimas e tristeza a sorrisos e felicidade. Atacas baixo, enojas-me. No entanto, amo-te.


Pertence-me; joga comigo. Sobe comigo, não quero descer. E assim - sim meu amor, subimos; sim meu amor, descemos.


Não te agradeço o jogo, tiraste-me a vontade de participar. Não te ofendo, não sou como tu. Não vou atacar, o jogo terminou; tinha de acabar, sim – terminou.

Subiu com esplendor, desceu com rancor.

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