terça-feira, 8 de março de 2011

Como uma Pedra

Como uma pedra , caida ao mar . Cai e com o peso desce . Desce e desce e desce . Afunda o máximo que pode e só pára quando atinge o fundo . E atinge o fundo porque tem de atingir . Pára porque tem de parar . Se nao houvesse fundo , se nao houvesse o que atingir , cairia nas desgraças do mar . Como tem um fundo para atingir , afunda . Afunda no escuro , turvo , frio , ingenuo mar , que , mesmo nao querendo , afunda tudo o que nao luta por ficar . Afunda o lutador cansado e o perdedor, afunda o bom e o mau , quem quer e quem nao quer . Afunda o que nao luta e , quanto está zangado , afunda o que luta .
Zanga-se quando lhe apetece , levando com ele o que nao faz questao de levar , afunda tambem o que anseia ficar .
E a pedra , coitada , sem ter como lutar , tristemente afunda e acaba por lá ficar . Sem ninguem que a tire de lá, habitua-se ao frio e à escuridao , que o aparente belo mar guarda , estranhando a luz e amando a solidão . Como uma pedra , no fundo , escuro e turvo mar , que bate no fundo e nao tem como voltar. Fica porque tem de ficar , fica porque nao ha quem a faça voltar .
Fica pedra , fica , que só podes ficar .

Sem comentários:

Enviar um comentário